quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Diferente Mundo

Desde o inicio da minha vida, posso apresentar diferentes dificuldades para me relacionar com outras pessoas, nos diversos lugares.
Meus déficits na interação social, na fala e meu “estranho” comportamento, são muito evidentes para algumas pessoas, mas por vezes demonstro minhas vontades, preferências e até reclamo. Estou vivo! Eu existo!
Ao chegar à escola por exemplo, já percebi o quanto buscam me conhecer. Observam meu comportamento, minhas características, minhas capacidades e habilidades, minhas necessidades e limites. Percebi que meus pais e muitas outras pessoas participam. Será que eles não estão me entendendo?
Talvez estejam querendo entender o meu diferente mundo.
Posso não realizar muitas coisas: olhar nos olhos de outras pessoas, aceitar que me toquem, posso não me interessar por objetos e até mesmo pelo lugar onde me levam junto. Gosto muito de ficar sozinho.
Há comidas que não "suporto". Às vezes, mastigar e engolir é difícil.
Uma confissão: ainda não sei para que serve o banheiro.
Alguém me perguntou? Não sei o que responder. Precisa responder? Por vezes repito o que estão falando.
Dançar? Acho até legal, posso me movimentar pra lá, pra cá, percebo o som, mas às vezes não me manifesto. Será que posso aprender a cantar? Posso tentar!
Livros, revistas, já observei que se movimentam de forma interessante: abro, fecho, balanço, mas posso não identificar o que ele quer dizer, o que está escrito, ou pelo menos por enquanto. Acho que pareço muito distraído, meio desligado.
Agora, que você conhece um pouco das minhas características, há imensas possibilidades de criar estratégias, atividades para promover mais atenção e colocar cores no meu diferente mundo. Mesmo que eu não me importe, lembre-se:
Olhe-me sempre, esteja frente a frente. Brinque, divirta-se e busque a minha diversão, posso gostar das suas caras e bocas, das suas expressões, seria falar com o corpo, entende? Aponte para chamar minha atenção. Mostre-me as coisas, eu posso te acompanhar, talvez bem de perto, quero ver. Posso perceber!
Mostre-me. Mesmo quando por vezes pareço distraído, posso estar aos poucos mais atento às suas divertidas manifestações. Resisto. Às vezes faço-me de difícil. Mas tente, podemos nos olhar no espelho. Um dia, poderei perceber eu e tu.
Mostre-me os diversos cenários que estão por trás desse diferente mundo, quero conhecer, participar. Quero saber o que é e para que serve cada coisa.
Quero então ser independente, sei que também queres que eu seja. Eu, só não sei como...
Como agora, tu me conheces mais que eu, faz diariamente (em casa, na escola, não importa onde) o que deve ser feito, para que eu viva melhor nesse meu diferente mundo.

 

Texto de Flávia Tamarindo – Fonoaudióloga
Em 26/10/2010

2 comentários:

  1. OLHA...EU LI O TEXTO, COM ATENÇÃO...VI E IMAGINEI DIVERSAS PESSOAS, UM SURDO, UM CEGO, UMA CRIANÇA, UM DEFICIENTE FISICO, ENFIM...FUI IMAGINANDO DIVERSAS PESSOAS, E NO FINAL, CHEGUEI A CONCLUSÃO QUE ESSA CRIANÇA É MUITO INTELIGENTE PARA IMAGINAR TUDO O QUE ELA FALOU, MAS TUDO É VÁLIDO, O QUE VAMOS FAZER, A INTERPRETAÇÃO É MAIS OU MENOS FÉRTIL, DEPENDE DE QUEM LE, DE QUEM INTERPRETA, E DO CONHECIMENTO QUE TEM DA VIDA EDUCACIONAL, OU EXPERIENCIA PRÓPRIA. ENFIM...É MAIS UM TEXTO. VALEU...DA PRA SE TIRAR VÁRIAS CONCLUSÕES, TRABALAHAR EM GRUPOS,E FAZER A IMAGINAÇÃO FÉRTIL DOS MAIS ADULTOS INTERPRETAREM, DESCREVEREM E SORRIR NO FINAL. É MAIS UM TEXTO.
    PARABENS, TUDO NA VIDA É VÁLIDO. O QUE MAIS POSSO DIZER?
    UM BEIJO
    PROF.VILSON BAGATINI

    ResponderExcluir
  2. Olá Bagatchê,

    Recebo positivamente seu comentário e te agradeço.
    Esclareço que
    escrevo sobre o Autismo. E mais do que simplemente escrever, tento
    fazê-lo por "ele"... Não que ele tenha essa compreensão, mas escrevi um pouco da minha compreensão sobre o tema.
    A interpretação das pessoas diante da escrita do texto, poderá variar
    muito, obviamente,isso sabemos que depende exatamente do que o senhor falou:
    da experiência própria e do conhecimento da vida educacional.
    A ideia de escrever pela pessoa com Autismo, trouxe a tona algumas características,
    situações frequentes no contexto da pessoa que o apresenta, e estratégias de como agir diante
    de um caso desses. Lembro que, são apenas algumas questões, de certa forma generalizadas,
    mas que caracteriza um pouco algumas realidades.
    O Autismo manifesta-se de diversas formas e é de extrema necessidade e importância a busca de orientações
    para cada caso, com profissionais especializados, principalmente diante dos primeiros "sintomas" apresentados.
    A intenção foi despertar a discussão sobre o assunto... Foi apenas uma forma diferente de "retratar o Autismo".
    Mais uma vez, obrigada.
    Abraço

    ResponderExcluir